sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

SONHOS: Raposas Akira Kurasawa


Enviado por em 31/01/2011
Akira Kura(o)sawa - Sonhos

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Enviado por em 31/01/2011
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Sonhos, de Kurosawa - Raposas



ZemArte


Eu vejo no primeiro sonho

a representação do famoso "Pecado Original"

- A expulsão do homem do Éden.

ZemArte 2 anos atrás


Fonte:


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Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres

.Sejam abençoados todos os seres.




Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.Sejam abençoados todos os seres.

SONHOS : de Akira Kurosawa


Marcia fala sobre a obra Sonhos de Akira Kurosawa

(Crítica)

ZemArte

Eu vejo no primeiro sonho 
a representação do famoso "Pecado Original"
- A expulsão do homem do Éden.
ZemArte 2 anos atrás

Fonte:
Enviado por em 10/08/2009
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O QUE ISRAEL DEVE FAZER DIANTE DA PRIMAVERA ÁRABE ?



 

O que Israel deve fazer diante da Primavera Árabe?




especialmente no Egito, onde a Irmandade Muçulmana 
  deve ter ganhos importantes na eleição parlamentar, 
cristalizou em Israel o temor de se ver cercado
por vizinhos ainda mais hostis. 
 

Colunistas, como Jonathan Halevi, do direitista Jerusalem Post, alertam que todos os partidos religiosos do mundo muçulmano são “braços da Irmandade Muçulmana” e dividem com ela uma “ideologia mundial”.

Na semana passada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu (foto), fez discurso no parlamento dizendo que as vitórias de partidos religiosos mostraram que ele sempre esteve certo ao não apoiar as massas que foram para as ruas na Primavera Árabe. Essa postura, entretanto, é rechaçada pelos esquerdistas.

No Haaretz, Zvi Bar’el critica o fato de o governo israelense generalizar todos movimentos e classificá-los simplesmente como “islã” e de não tentar melhorar suas relações com as populações árabes.
 


Quando uma ameaça tem um nome coletivo,isso tira responsabilidade dos ombros de Israel pelas relações ruins com os países árabes e seus futuros regimes. (…) O estilo de vida dos cidadãos nos países árabes não interessa Israel. Nem a democracia árabe que pode surgir depois dos regimes religiosos. Israel prefere separar as conexões entre os cidadãos muçulmanos e a política externa de seus países. A paz, em sua versão israelense, é feita com líderes, preferivelmente os autocráticos, e não com as populações.
Em seu duro artigo contra a direita israelense (o colunista e o Haaretz são de esquerda), Bar’el não propõe soluções sobre o que Israel deveria fazer, mas este buraco foi coberto pelo colunista Thomas Friedman, nesta quarta-feira, no jornal The New York Times.

Ele critica a postura de Netanyahu de “não fazer nada” e diz que Israel deveria apoiar o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Salam Fayyad, que vem realizando um bom trabalho na Cisjordânia. Ele é visto com bons olhos pelo ocidente, mas sofre resistência do islamista Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Para Friedman, Israel agir firmemente para buscar a paz com os palestinos é fundamental.

 Este é um momento muito delicado.
 Ele exige uma liderança israelense inteligente
e de visão abrangente.

   O despertar árabe 
coincide com as últimas esperanças de uma solução
de dois Estados para israelenses e palestinos.



 
. Os direitistas israelenses ficarão tentados a não fazer nada, a insistir que o momento não é para assumir risco – e nunca será – então Israel deve ocupar a Cisjordânia e seus palestinos para sempre.

 Este pode ser o maior risco 
de todos para Israel: acordar um dia e descobrir que,
em resposta ao bagunçado e turbulento despertar árabe, 
o estado judeu sacrificou 
seu próprio caráter democrático”.(*?)
 
O que os artigos de Bar’el e Friedman juntos querem dizer é que Israel deve trabalhar para tentar tornar menor o nível de ódio que existe contra o Estado judeu entre os árabes. Com a Primavera Árabe, este sentimento latente virá cada vez mais à tona, tornando inevitável que a condição política de Israel na região se deteriore. Assim, Israel deve se adiantar e tentar estreitar laços com as populações árabes, entre elas a palestina, para garantir a formação de um Estado palestino e sua própria segurança a longo prazo.

Foto: Sebastian Scheiner / AP
José Antonio Lima
 

5 comentários

5 Comentários para

“O que Israel deve fazer diante da Primavera Árabe?”

  1. Joel Mauer: De um modo geral me incluo dentre aqueles que historicamente receberam uma gama de informações do chamado “ocidente” liderados por USA e Inglaterra,na qual sempre foi preconizado que os povos árabes nao querem(iam)a paz, são inimigos de Israel,USA,etc,etc. Hoje consigo ver que o país que menos deseja conciliação com o povo árabe é Israel. Esse país está encravado no coração do Oriente Médio,no meio do povo árabe, sofreu toda a perseguição,morte e todo tipo de atrocidade na II guerra. Será que não seria mais inteligente tentar uma aproximação e união com o povo árabe em vez de tentar combate-los? Será a discriminação maior nao é do estado de Israel ? Por que não apoiaram os levantes populares tão desejados e aspirados pelos povos do Egito,Líbia,Iemen,Tunisia e outros que ai estão, como a Síria,etc. Será que eles não merecem sonhar com Democracia e liberdade? Agora vem de novo esse B.Netanyahu todo radical e diz que estava certo, que acertou em não apoiar a busca por liberdade daqueles povos. precisa mais??
     
  2. jpires: O Maior problema é o cerco a Israel, que fica rodeado de países islâmicos em todas as suas fronteiras. As relações entre Israel e esses países vão endurecer mais no futuro, mesmo com a Turquia, que está à espera da evolução das revoluções, e ver para que lado vai pender o fiel da balança. Os EUA e os países ocidentais democráticos, não dão o devido apoio ao único país com a mais evoluida democracia do Médio-Oriente, mas dão apoio a revoluções àrabes duvidosas, que derrubaram é certo, regimes ditatoriais, mas que mantinham uma relação de boa vizinhança e cooperação com Israel, na estabilidade da zona. E o que se segue? Israel vai ser atacado pelos novos regimes que serão certamente apoiados pelo Irão, que quer “varrer Israel do Mapa”. Certamente que Israel saberá defender-se, mesmo sem apoio do Ocidente, o problema será esse mesmo, porque como potência nuclear poderá fazer uso de armas nucleares e da alta tecnologia que possui e, já devem estar preparados para o pior dos cenários.
     
  3. Jorge: Creio que todos aqueles que querem defender os árabes em detrimento de Israel deveriam se informar bem sobre o que foi a “guerra dos 6 dias”: suas causas e conseqüências. Aí, sim, poderão comentar com mais conhecimento de causa. E nisso incluo uma gama grande de repórteres e comentaristas políticos.
     
  4. clodualdo pereira mendonça: Todos precisam sim estudar a guerra de seis dias, para poderem entender a postura israelense de não acreditar em nenhuma politica árabe seja ela direita, esquerdsa ou religiosa e acredito que deve ser assim mesmo. Israel deve estar sempre alerta e pronto a defender seus interesses. Israel será sempre vencedor. Viva Israel.
     
  5. irani: lamento que algumas pessoas confundam a politica com religiao pois apoiam israel incondicionalmente simplismente porque na biblia diz que eles são nação santa,que serão cercados e que venceram que triste isso

o meu comentário:
(....)
Li

Fonte:


Redação ÉPOCA
qua , 30/11/2011
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Sejam abençoados todos os seres.

A HISTÓRIA DE ISRAEL - ANTIGA E ATUAL - Airton José da Silva



Airton José da Silva

3.7.

A Questão Teórica:

Como Nasce Um Estado Antigo?

 

Sem dúvida, a questão da origem dos antigos Estados Israelitas passa pela discussão da noção de Estado como forma de organização política. No volume de 1996, editado por Volkmar Fritz & Philip R. Davies sobre As Origens dos Antigos Estados Israelitas, no qual é apresentada a recente controvérsia sobre a existência ou não de uma monarquia unida em Israel e, especialmente, de um Império davídico/salomônico e que traz dez conferências de renomados especialistas apresentadas em um Colóquio Internacional realizado em Jerusalém sobre A Formação de um Estado. Problemas Históricos, Arqueológicos e Sociológicos no Período da Monarquia Unida em Israel, a alemã Christa Schäfer-Lichtenberger sugere que somente a arqueologia não resolverá esta discussão.

Ela questiona a aplicação pura e simples do conceito moderno de “Estado” às formas de organização política das comunidades antigas como forma de se desvelar sua existência e parte para uma discussão teórica na qual tentará definir a noção de Estado a partir dos estudos etnosociológicos de Georg Jellinek, Max Weber e Henri Claessen. 

Claessen e outros estabeleceram que para se explicar a origem de um Estado é preciso considerar a emergência de vários fatores, tais como o crescimento da população e suas necessidades, as guerras e as ameaças de guerras, as conquistas e invasões, o desenvolvimento da produção e o aparecimento do excedente, a cobrança de tributos, o surgimento de uma ideologia comum e conceitos de legitimação dos governantes, além da influência dos Estados vizinhos já existentes.

Seguindo especialmente Henri Claessen, Christa vai distinguir três fases de desenvolvimento do Estado primitivo: o estado primitivo incoativo, o estado primitivo típico e o estado primitivo de transição. O processo de desenvolvimento de uma fase para outra passa pelo enfraquecimento dos laços de parentesco e o fortalecimento das ações políticas centralizadas, pela transformação da posse comum da terra em propriedade privada dos meios de produção e pela substituição de uma economia de trocas de bens e serviços em uma economia de mercado, fortalecendo o antagonismo de classes, até o desenvolvimento de especializações por parte de oficiais estatais, o estabelecimento da taxação regular e constante, a codificação de leis e a constituição de estruturas jurídicas controladas pelo poder central.

Em seguida, considerando sete critérios usados tanto por Weber como por Claessen, segundo a autora, – população, território, governo centralizado, independência política, estratificação, produção de excedente e tributos, ideologia comum e conceitos de legitimação - e usando os dados do Deuteronomista, Christa vai classificar o reino de Saul como um estado incoativo e o reino de Davi como um estado heterogêneo, pois este último, pelos critérios de governo centralizado, estratificação social e produção de excedente, é ainda um estado incoativo, embora já possua algumas características de estado primitivo típico, mas pelos critérios de população, território, independência política e ideologia, ele já é um estado de transição.
E, para a autora, como se explica a ausência de documentos escritos extrabíblicos sobre um reino unido?

Christa diz que a ausência de documentos escritos no Antigo Oriente Médio sobre Israel na Idade do Ferro I (ca. 1200-900 a.C.) pode ter quatro causas, cada uma independente da outra:

a) Não existiu uma entidade política de nome Israel nesta época
b) Síria/Palestina, Egito e Assíria não conseguiram hegemonia política sobre esta região nesta época, e, por isso, nada registraram
c) Os textos não sobreviveram porque foram registrados em papiros
d) Os escritos ainda não foram encontrados.

Christa é de opinião
que as causas b e d oferecem uma explicação suficiente
para o silêncio do Antigo Oriente Médio.
Christa trata também da ausência de monumentos e inscrições em monumentos nesta época na região e justifica tal ausência dizendo que não se deve colocar Judá-Israel no mesmo nível do Egito ou da Assíria, onde tais achados arqueológicos são comuns, pois Estados com estruturas pequenas ou médias não podem ser medidos pelos mesmos critérios de grandes impérios. E mesmo que inscrições em monumentos tenham existido, elas estariam em Jerusalém, onde dificilmente teriam sobrevivido às reformas religiosas de reis como Josias – por conterem nomes de outras divindades além de Iahweh – ou às maciças destruições militares de que a cidade foi vítima[8].

O estudo é interessante quando questiona algumas posturas pouco elaboradas teoricamente de certos especialistas, mas o restante deixa uma sensação de “dèjá vu”! As categorias sócio-antropológicas da autora sobre o Estado me parecem insuficientes – especialmente quando confrontadas com as várias tentativas marxistas na área – e ela não escapa de uma leitura do Deuteronomista como sua fonte principal. Tem-se a impressão de que a leitura da OHDtr é que oferece as categorias etnosociológicas para a análise e não o contrário. No mínimo, deixaria Thomas L. Thompson desconfiado e Niels Peter Lemche contrariado!

Para ficar ainda no campo da discussão teórica, dizem especialistas de tendência marxista que analisam as sociedades de tipo tributário (também chamadas "asiáticas", porque mais comuns naquele continente) que a sociedade tribal de tipo patriarcal já representa uma forma típica de transição da comunidade primitiva para a sociedade de classes. As contradições da sociedade tribal aumentam progressivamente até provocarem o aparecimento do Estado, que inicialmente é uma função (de defesa, de grande obras etc), mas que passa a ser uma exploração.

Da economia de auto-subsistência, através do desenvolvimento das forças produtivas, passa-se a uma economia tribo-patriarcal baseada em certa hierarquização que permite a acumulação para determinadas camadas: há os privilégios dos homens sobre as mulheres, do primogênito sobre seus irmãos, das tribos líderes sobre as outras tribos etc. É um embrião de divisão de classes, anterior ao Estado, detectável em Israel já no período conhecido biblicamente como "dos juízes".

Da economia tribo-patriarcal passa-se à economia do Estado tributário, através da necessidade de obras conjuntas (defesa contra inimigos, trabalhos de irrigação, construção de muralhas, por exemplo) e da dominação de uma linhagem superior que se impõe sobre as outras (família do líder, como Davi e seus descendentes) e que passa a controlar também o comércio intertribal. Aliás, na sociedade tributária o comércio é possível só a partir da acumulação do excedente feita pelo Estado.

Neste tipo de sociedade a escravidão só existe de maneira secundária: o peso da produção não cai sobre os escravos, pois a propriedade coletiva da terra, que continua como na época tribal, torna-os desnecessários. A mão-de-obra é familiar.

Assim, o Estado tributário que inicialmente nascera com funções públicas (defesa, organização etc) passa, pouco a pouco, a ser um autêntico poder de classe (a classe que se constitui nele) para manter e aumentar a exploração. O Estado é conseqüência da exploração de classe, ele não é a sua causa. O despotismo do governo é também uma conseqüência da formação de classes.
A grande contradição interna desta organização: coexistência de estruturas comunitárias e de estruturas de classe. Se ela não evolui, as sociedades tributárias ficam estagnadas no seu nível social. A terra pertence a Iahweh em Israel, mas o Estado detém o poder religioso através dos templos, controlando a vontade da divindade através dos sacerdotes, profetas e juízes pagos pelo governo. O indivíduo passa assim, na sociedade tributária, por duas mediações: da comunidade tribal a que pertence e do Estado tributário[9].

3.8. As Soluções  

de Lemche e de Finkelstein & Silberman

 

Lester G. Grabbe nos lembra, na conclusão do volume sobre o primeiro Seminário Europeu sobre Metodologia Histórica, do qual já falamos acima, que durante as discussões em Dublin, em 1996, ninguém negou a existência de um ‘reino de Israel’, assim como de um ‘reino de Judá’, testemunhados pela Assíria, mas os participantes do seminário fizeram objeções a duas concepções: uma é a de que o construto literário do ‘Israel bíblico’ pode ser diretamente traduzido em termos históricos; e a outra é a de que ‘Israel’ deve canalizar e dominar o estudo da região na antigüidade. A descrição bíblica de um grande Império israelita foi tratada com muito ceticismo [sublinhado meu].
Por tudo isto, é que se buscam outras soluções. Como a de Niels Peter Lemche que, no volume de 1996, editado por Volkmar Fritz & Philip R. Davies sobre As Origens dos Antigos Estados Israelitas, propõe o conceito de sociedade patronal [patronage society] para explicar a variedade social da Síria, e especialmente da Palestina, no Período do Bronze Recente (ca. 1500-1200 a.C.). 

Este modelo, freqüentemente chamado de ‘sistema social mediterrâneo’ parece ter sido onipresente em sociedades com um certo grau de complexidade, mas que não constituíam ainda Estados burocráticos. E Lemche define como típico de uma sociedade patronal sua organização vertical, onde no topo encontramos o patrono [patron], um membro de uma linhagem líder, e abaixo dele seus clientes [clients], normalmente homens e suas famílias. 

Lemche explica que a ligação entre patrono e cliente é de tipo pessoal, com juramento de lealdade do cliente ao patrão e de proteção do patrono para o cliente. Em tal sociedade, códigos de leis não são necessários: ninguém vai dizer ao patrono como julgar. 

A crise da Palestina que aparece nas Cartas de Tell el-Amarna (século XIV a.C.) pode ser explicada, segundo Lemche, a partir desta realidade: os senhores das cidades-estado palestinas vêem o faraó como seu patrono e reivindicam sua proteção em nome de sua fidelidade; porém, o Estado egípcio não os vê do mesmo modo e os trata de modo impessoal, seguindo normas burocráticas. Daí, a (falsa) percepção dos pequenos reis das cidades de Canaã de que foram abandonados pelo faraó, que não está cuidando de seus interesses na região.
Sem dúvida, houve uma crise social na Palestina no final do Bronze Recente. E a proposta de Lemche para o que pode ter acontecido é a seguinte: as fortalezas do patrono foram substituídas por estruturas locais, por povoados, organizados sem um sistema de proteção como o do patrono – o assim chamado ‘rei’ – ou com patronos locais. 

Portanto, o aparecimento dos povoados da região montanhosa do centro da Palestina representa, simplesmente, um intervalo entre dois períodos de sistemas patronais mais extensos e melhor estabelecidos. Pois o que aconteceu no século X a.C. foi, de fato, o restabelecimento de um sistema patronal semelhante ao anterior[10]

Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, no capítulo sobre a monarquia davídico-salomônica de seu livro The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts, New York, The Free Press, 2001, pp. 123-145, nos lembram como, para os leitores da Bíblia, Davi e Salomão representam uma idade de ouro, enquanto que para os estudiosos representavam, até recentemente, o primeiro período bíblico realmente histórico. Hoje, a crise se abateu sobre o "império" davídico-salomônico.

E se perguntam: Davi e Salomão existiram? Mostram como os minimalistas dizem: "não", os argumentos pró e contra a postura dos minimalistas, e colocam aquela que é para eles a questão chave: 

 o que diz a arqueologia sobre Davi/Salomão?

Para Finkelstein e Silberman a evolução dos primeiros assentamentos para modestos reinos é um processo possível e até necessário na região. 

Descrevendo as características do território de Judá, concluem que este permaneceu pouco desenvolvido, escassamente habitado e isolado no período atribuído pela Bíblia a Davi/Salomão: é o que a arqueologia descobriu.
E Jerusalém? As escavações de Yigal Shiloh, da Universidade Hebraica de Jerusalém, nas décadas de 70 e 80, na Jerusalém das Idades do Bronze e do Ferro mostram que não há nenhuma evidência de uma ocupação no século X a.C. 

A postura mais otimista 
aponta para um vilarejo no século décimo, 
enquanto que o resto de Judá, na mesma época 
seria composto por cerca de 20 pequenos povoados
e poucos milhares de habitantes, tendo havido, portanto, 
dificilmente, um grande império davídico.
 
Mas e as conquistas davídicas? Até recentemente, em qualquer lugar em que se encontravam cidades destruídas por volta do ano 1000 a.C. isto era atribuído a Davi por causa das narrativas de Samuel. Teoricamente é possível que os israelitas da região montanhosa tenham controlado pequenas cidades filistéias como Tel Qasile, escavada por Benjamin Mazar em 1948-1950, ou até mesmo cidades cananéias maiores como Gezer, Meguido ou Bet-Shean. Mas será que o fizeram?

E o glorioso reino de Salomão?
Em Jerusalém, nada foi encontrado,
mas e Meguido, Hasor e Gezer?
 
Em Meguido P. L. O. Guy, da Universidade de Chicago, descobriu, nas décadas de 20 e 30, os "estábulos" de Salomão. Sua interpretação dos edifícios achados se baseou em 1Rs 7,12;9,15.19. Na década de 50, Yigael Yadin descobriu, ou identificou nas descobertas de outros, as "portas salomônicas" de Hasor, Gezer e Meguido. Também a chave aqui foi 1Rs 9,15, que diz: "Eis o que se refere à corvéia que o rei Salomão organizou para construir o Templo de Iahweh, seu palácio, o Melo e o muro de Jerusalém, bem como Hasor, Meguido, Gazer [=Gezer]".

Mas, na década de 60, Y. Yadin escava novamente Meguido e faz a descoberta de um belo palácio que parecia ligado à porta da cidade e abaixo dos "estábulos", o que o leva à seguinte conclusão: os palácios [a Universidade de Chicago encontrara outro antes] e a porta de Meguido são salomônicas, enquanto que os "estábulos" seriam da época de Acab, rei de Israel do norte no século IX a.C.

Durante muitos anos, estas "portas salomônicas" de Hasor, Gezer e Meguido foram o mais poderoso suporte arqueológico ao texto bíblico. Mas o modelo arquitetônico dos palácios salomônicos veio dos palácios bit hilani da Síria, e estes, se descobriu, só aparecem no século IX a.C., pelo menos meio século após a época de Salomão. "Como poderiam os arquitetos de Salomão ter adotado um estilo arquitetônico que ainda não existia?", se perguntam os autores na p. 140. E o contraste entre Meguido e Jerusalém? Como um rei constrói fabulosos palácios em uma cidade provincial e governa a partir de um modesto povoado?

Pois bem, dizem Finkelstein e Silberman na p. 140: "Agora nós sabemos que a evidência arqueológica para a grande extensão das conquistas davídicas e para a grandiosidade do reino salomônico foi o resultado de datações equivocadas".
Dois tipos de evidência fundavam os argumentos em favor de Davi e Salomão: o fim da típica cerâmica filistéia por volta de 1000 a.C. fundamentava as conquistas davídicas; e as construções das monumentais portas e palácios de Hasor, Gezer e Meguido testemunhavam o reino de Salomão. Nós últimos anos, entretanto, estas evidências começaram a desabar [aqui os autores remetem o leitor ao Apêndice D, pp. 340-344, onde os seus argumentos são mais detalhados].

Primeiro, a cerâmica filistéia continua após Davi e não serve mais para datar suas conquistas; segundo, os estilos arquitetônicos e as cerâmicas de Hasor, Gezer e Meguido atribuídos à época salomônica são, de fato, do século IX a.C.; e, por último, testes com o Carbono 14 em Meguido e outras localidades apontam para datas da metade do século IX a.C.
Enfim: a arqueologia mostra hoje que é preciso "abaixar" as datas em cerca de um século [anoto aqui que esta "cronologia baixa" de Finkelstein tem dado muito o que falar nos meios acadêmicos!]. 

O que se atribuía ao século XI 
é da metade do século X e o que era datado
na época de Salomão deve ser visto 
como pertencendo ao século IX a.C.
 
Dizem os autores: "Não há razões para duvidarmos da historicidade de Davi e Salomão. Há, sim, muitos motivos para questionarmos as dimensões e o esplendor de seus reinos. Mas, e se não existiu um grande império, nem monumentos, nem uma magnífica capital, qual era a natureza do reino de Davi?" (p. 142).

O quadro é o seguinte: região rural... nenhum documento escrito... nenhum sinal de uma estrutura cultural necessária em uma monarquia... do ponto de visto demográfico, de Jerusalém para o norte, povoamento mais denso; de Jerusalém para o sul, mais escasso... estimativa populacional: dos 45 mil habitantes da região montanhosa, cerca de 40 mil habitariam os povoados do norte e apenas 5 mil se distribuíam entre Jerusalém, Hebron e mais uns 20 pequenos povoados de Judá, com grupos continuando o pastoreio...
Davi e seus descendentes? "No século décimo, pelo menos, seu governo não possuía nenhum império, nem cidades com palácios, nem uma espetacular capital. 

Arqueologicamente, 
de Davi e Salomão só podemos dizer 
que eles existiram - e que sua lenda perdurou" (p. 143).
Entretanto, quando o Deuteronomista escreveu sua obra no século VII a.C., Jerusalém tinha todas as estruturas de uma sofisticada capital  monárquica. Então, o ambiente desta época é que serviu de pano de fundo para a narrativa de um mítica idade de ouro. Uma bem elaborada teologia ligava Josias e o destino de todo o povo de Israel à herança davídica: ele unificara o território, acabara com o ciclo idolátrico da época dos Juízes e concretizara a promessa feita a Abraão de um vasto e poderoso reino. Josias era o novo Davi e Iahweh cumprira suas promessas "O que o historiador deuteronomista queria dizer é simples e forte: existe ainda uma maneira de reconquistar a glória do passado" (p. 144)

A História de Israel no Debate Atual

Este artigo foi publicado, de forma mais resumida, em Cadernos de Teologia n. 9 (maio de 2001), Campinas: FTCR da PUC-Campinas, p. 42-64. Acréscimos ao texto são feitos sempre que surgem novidade


Até meados da década de 70 do século XX, havia um razoável consenso na História de Israel. Entre outras coisas, o consenso dizia que a Bíblia Hebraica era guia confiável para a reconstrução da história do antigo Israel. Dos Patriarcas a Esdras, tudo era histórico. Se algum dado arqueológico não combinava com o texto bíblico, arranjava-se uma interpretação diferente que o acomodasse ao testemunho dos textos, como no caso da destruição das (inexistentes) muralhas de Jericó pelo grupo de Josué[1].


Exemplos?

Os patriarcas eram personagens históricos, o que podia ser comprovado pelos textos mesopotâmicos de Nuzi, do século XIV a.C., em seus muitos paralelos, de estruturas sócio-econômicas a tradições legais, com Gn 12-35. E a migração dos amoritas, que ocuparam a Mesopotâmia e a Palestina no final do terceiro milênio a.C., criava as condições ideais para a entrada dos patriarcas na região da Palestina e explicava seus nomes, sua língua e sua religião.


José era personagem historicamente possível, pois havia grande quantidade de evidências egípcias que testemunhava os costumes contados em Gn 37-50. Semitas poderiam ter chegado a altos postos de governo no Egito, incluindo o de grão-vizir, especialmente durante o governo dos invasores asiáticos hicsos.

A escravidão dos hebreus no Egito e o êxodo não podiam ser questionados, pois textos egípcios testemunham que Ramsés II utilizou hapirus (= hebreus) na construção de fortalezas no delta do Nilo em regime de trabalho forçado. A Estela de Merneptah, faraó sucessor de Ramsés II, comprova a existência de israelitas na terra de Canaã na segunda metade do século XIII a.C., o que nos permitia fixar a data do êxodo aí por volta de 1250 a.C.


A conquista da Palestina pelas 12 tribos israelitas sob o comando de Josué, como narrada no livro que leva o seu nome, contava com testemunhos arqueológicos respeitáveis, como a destruição de importantes cidades cananéias na segunda metade do século XIII a.C., embora muitos autores preferissem explicar a entrada na terra de Canaã de outro modo, como pacífica e progressiva infiltração de seminômades pastores a partir da Transjordânia.

A construção e a consolidação do poderoso império davídico-salomônico eram consideradas como pontos fixos e imutáveis na historiografia israelita, constituindo marco seguro para qualquer manual de História de Israel ou de Introdução à Bíblia quanto às datas dos acontecimentos e às realizações da sociedade israelita.


Os reinos separados de Israel e Judá, após a morte de Salomão, eram bem testemunhados pelos textos assírios e babilônicos, e até pela Estela de Mesha, rei do vizinho país de Moab, sendo tudo, por sua vez, muito bem detalhado nos livros dos Reis, parte da confiável Obra Histórica Deuteronomista.


O exílio babilônico e a volta e reconstrução de Jerusalém durante a época persa, marcando o nascimento do judaísmo baseado no Templo e na Lei que passa a ser lida sistematicamente nas sinagogas, constituíam matéria real e sem maiores problemas, graças à confiabilidade dos textos bíblicos que detalhavam os acontecimentos desta época.


O melhor livro para detalhada exposição e defesa deste consenso é o de John Bright, História de Israel, São Paulo, Paulus, 1978, traduzido da segunda edição inglesa de 1972. Bright pertence à escola americana de historiografia de W. F. Albright e esta sua ‘História de Israel’ foi o manual mais utilizado por nós nos anos 70 e 80 do século passado.




John Bright e sua História de Israel

John Bright lançou uma 3a edição de sua História de Israel em 1981. Poucas mudanças foram feitas. O autor atualizou o livro quanto a algumas descobertas arqueológicas e mostrou-se mais prudente nas afirmações sobre a historicidade de certos acontecimentos e personagens bíblicos. Mas manteve, basicamente, as posições da 2a edição. Diz o autor, no Prefácio da 3a edição, que, em muitos pontos onde anteriormente havia certo consenso, hoje há um verdadeiro caos de opiniões conflitantes. E cita, como exemplo, a questão das origens de Israel e a data e a historicidade dos patriarcas. Cf. BRIGHT, J., A History of Israel, Philadelphia, Westminster Press, 1981. Uma 4a edição do livro foi lançada, após a sua morte em 1995, com uma Introdução e um Apêndice de William P. Brown, no ano 2000, pela Westminster John Knox Press. A tradução brasileira desta 4a edição foi publicada pela Paulus no final de 2003, como a 7a edição, revista e ampliada a partir da 4a edição original. Bright foi, até a sua morte, Professor de Hebraico e de Interpretação do Antigo Testamento no Union Theological Seminary, Richmond, Virginia, USA. Uma resenha da 'História de Israel' de Bright, focalizando especialmente a 4a edição, feita por Ludovico Garmus, pode ser lida na revista Estudos Bíblicos n. 69, Petrópolis, Vozes, 2001, pp. 90-93.




É preciso lembrar, porém, que a historiografia alemã, desde W. de Wette, em 1806-7, passando por Julius Wellhausen, em 1894, até Martin Noth, em 1950, não participava integralmente deste consenso, negando, por exemplo, a historicidade dos patriarcas.


Mas, a ‘História de Israel’ está mudando. O consenso foi rompido. A paráfrase racionalista do texto bíblico que constituía a base dos manuais de ‘História de Israel’ não é mais aceita. A seqüência patriarcas, José do Egito, escravidão, êxodo, conquista da terra, confederação tribal, império davídico-salomônico, divisão entre norte e sul, exílio e volta para a terra está despedaçada.


O uso dos textos bíblicos como fonte para a ‘História de Israel’ é questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e falar de ‘arqueologia bíblica’ hoje é proibido: existe uma ‘arqueologia da Palestina’, ou uma ‘arqueologia da Síria/Palestina’ ou mesmo uma ‘arqueologia do Levante’.

O uso de métodos literários sofisticados para explicar os textos bíblicos, afasta-nos cada vez mais do gênero histórico, e as ‘estórias bíblicas’ são abordadas com outros olhares. A ‘tradição’ herdada dos antepassados e transmitida oralmente até à época da escrita dos textos freqüentemente não consegue provar sua existência.


A construção de uma ‘História de Israel’ feita somente a partir da arqueologia e dos testemunhos escritos extrabíblicos é uma proposta cada vez mais tentadora. Uma ‘História de Israel’, que dispense o pressuposto teológico de Israel como ‘povo escolhido’ ou ‘povo de Deus’ que sempre a sustentou. Uma ‘História de Israel e dos Povos Vizinhos’, melhor, uma ‘História da Síria/Palestina’ ou uma ‘História do Levante’ parece ser o programa para os próximos anos.


E há pesquisadores de renome na área, como Rolf Rendtorff, exegeta alemão, professor emérito da Universidade de Heidelberg, que já em 1993 afirmava em artigo na revista Biblical Interpretation 1, p. 34-53, que os problemas da interpretação do Pentateuco estão intimamente ligados aos problemas mais amplos da reconstrução da história de Israel e da história de sua religião.

Este artigo quer traçar um panorama destas mudanças pelas quais vem passando a ‘História de Israel’ nos últimos trinta e tantos anos, apontar as dificuldades que a crise vem criando e propor algumas pistas de leitura para os interessados no assunto.

1. Patriarcas? Que Patriarcas?


Em 1967, o norte-americano Thomas L. Thompson começou sua tese de doutorado na Universidade de Tübingen, na Alemanha. O tema: as narrativas patriarcais. Sua idéia fundamental: se algumas das narrativas sobre os patriarcas hebreus estavam se referindo historicamente ao segundo milênio a.C., como quase todos os arqueólogos e historiadores acreditavam naquela época, então Thompson poderia distinguir nelas as mais antigas histórias bíblicas da tradição posterior mais ampliada[2].

Thomas L. Thompson

















Quando Thompson começou seu trabalho, ele estava tão convencido da historicidade das narrativas sobre os patriarcas no Gênesis, que aceitou, sem questionar, os paralelos feitos entre os costumes patriarcais e os contratos familiares encontrados na cidade de Nuzi, no norte da Mesopotâmia, e datados da época do Bronze Recente (ca. 1500-1200 a.C.)[3].


Dois anos mais tarde, porém, em 1969, Thompson percebeu que os costumes familiares de Nuzi e as leis sobre propriedades não eram exclusivos nem de Nuzi, nem do segundo milênio, mas, mais provavelmente, refletiam práticas típicas do primeiro milênio a.C. Isto quebrava o paralelismo feito pelos autores entre Nuzi e o mundo patriarcal e tirava a garantia de que os costumes patriarcais refletiam práticas do segundo milênio. 



Nuzi e os Patriarcas

Um bom exemplo desse paralelismo pode ser lido no comentário de SPEISER, E. A., Genesis, Garden City, New York, Doubleday, 1964, na clássica coleção The Anchor Bible, no qual o autor discute cerca de 20 coincidências entre os costumes patriarcais e os costumes de Nuzi, como os casos da esposa-irmã Sara (Gn 12,10-20 e paralelos), a adoção de um estrangeiro, Eliezer, como herdeiro (Gn 15,2), a mãe de aluguel como Agar (Gn 16,1-6).  Estes e outros exemplos podem ser mais facilmente vistos em VOGELS, W., Abraão e sua Lenda. Gênesis 12,1-25,11, São Paulo, Loyola, 2000, pp. 38-45.



Além do mais, examinando a hipótese amorita, segundo a qual teria havido grande migração de nômades vindos das fronteiras do deserto siro-arábico para a Mesopotâmia e para a Síria-Palestina no final do terceiro milênio, Thompson percebeu que não havia prova alguma para tal pressuposto, pois o que se descobriu nos últimos anos é que os amoritas sãoThompson, The Mythic Past sedentários do norte da Mesopotâmia, vivendo da agricultura e da criação de gado. Isto é testemunhado pelas centenas de povoados espalhados do Eufrates até os vales dos rios Khabur e Balikh e datados pelos arqueólogos como existentes desde o Calcolítico. O crescimento populacional dos amoritas deve ter provocado a ampliação de seus territórios e a ocupação de várias cidades da região. Além do que, muitas das mudanças ocorridas em todo o Antigo Oriente Médio que antes eram atribuídas a invasões mal documentadas de povos, podem ser explicadas, hoje, mais cientificamente, pelas mudanças climáticas na região, sujeita a períodos de secas prolongadas e devastadoras.


Thompson passou, então, a defender que as narrativas patriarcais estavam refletindo muito mais o primeiro do que o segundo milênio, e a datação tradicional dos patriarcas e sua historicidade caíram por terra.


O resultado foi academicamente desastroso. Thompson, que terminou a pesquisa em 1971, não pôde defender sua tese na Europa nem publicar seu livro nos Estados Unidos. O livro só foi publicado em 1974 e Thompson conseguiu seu PhD na Temple University, Philadelphia, Estados Unidos, em 1976[4].


John Van Seters, de quem falaremos mais detalhadamente no próximo item a propósito do Javista, pesquisando a historicidade dos patriarcas, independente de Thomas L. Thompson, chegou a conclusões semelhantes, não atribuindo qualquer valor histórico às estórias sobre Abraão.


Em 1987 Thomas L. Thompson começou a trabalhar a questão das origens de Israel, retomando a argumentação publicada em um artigo de 1978, sob o título de “O Background dos Patriarcas”, no Journal for the Study of the Old Testament, da editora Sheffield, Reino Unido. Neste artigo, Thompson localizava as origens de um Israel histórico na região montanhosa ao norte de Jerusalém durante o século IX a.C. Isto implicava a exclusão de qualquer unidade política de Israel que abrangesse toda a Palestina, ou seja, não podia ter existido uma ‘Monarquia Unida’ sob Saul, Davi e Salomão em Jerusalém, no século X a.C. 



O artigo de T. L. Thompson foi relançado em livro: The Background of the Patriarchs: A Reply to William Dever and Malcolm Clark, em ROGERSON, J. W. The Pentateuch. A Sheffield Reader. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1996, p. 33-74.



O estudo completo resultou no livro Early History of the Israelite People from the Written and Archaeological Sources [Antiga História do Povo Israelita a partir de Fontes Escritas e Arqueológicas], Leiden, Brill, 1992 [19942]. Diz Thompson que a reação a este livro foi pior do que à tese sobre os patriarcas, levando ao afastamento do autor da Marquette University, nos Estados Unidos, onde trabalhava.

Mas, em 1993, Thompson foi convidado para trabalhar no Departamento de Estudos Bíblicos da Universidade de Copenhague, onde até hoje se encontra, e onde encontrou um grupo com idéias avançadas sobre a ‘História de Israel’, os hoje chamados ‘minimalistas’.



Um relato dos conflitos e debates que envolveram a escrita e publicação da tese de Thompson foi feito por ele no artigo On the Problem of Critical Scholarship: A Memoire, publicado em abril de 2011 pela revista online The Bible and Interpretation.



2. Van Seters Reinventa o Javista


Ainda em 1964, o canadense John Van Seters aceita o desafio de um seu professor e começa a revisão da ‘Hipótese Documentária’ do Pentateuco, examinando as tradições sobre Abraão.

A ‘Hipótese Documentária’ afirmava, desde o século XIX, que o Pentateuco era composto pelas fontes JEDP – Javista, Eloísta, Deuteronômio e Sacerdotal, elaboradas desde o século X a.C. na corte davídico-salomônica até o século V a.C., com Esdras, na Jerusalém pós-exílica. 


F. V. Winnet, professor de Van Seters, em conferência feita em 1964, levantou uma série de dúvidas sobre os fundamentos da Hipótese Documentária. Winnet não aceitava a fonte E como um documento independente. Quando muito, admitia o pesquisador, ela poderia ser uma revisão de mais antiga tradição patriarcal e não poderia ser encontrada no Êxodo e Números. Isto porque o desenvolvimento literário do Gênesis teria ocorrido de modo independente de Êxodo e Números até o estágio final da composição do Pentateuco, quando então foram organizados e combinados pelo Sacerdotal (P).  Assim, duas diferentes fontes deveriam ser vistas dentro do material J do Gênesis: uma mais antiga e outra da época do exílio. Com um detalhe: estas fontes não seriam documentos independentes, mas complementos de outras mais antigas. O mesmo deveria ser dito do P. 


Embora a proposta de Winnet não tenha causado repercussão, Van Seters, examinando as tradições sobre Abraão, como dissemos, percebeu que episódios paralelos – como a história de Sara “irmã” de Abraão em Gn 12,10-20;20,1-18;26,1-11 – não são documentos independentes agrupados por redatores, mas sua relação é de complementação: Gn 12,1-20 corresponde ao J mais antigo de Winnet, Gn 20, 1-18 ao complemento E e Gn 26,1-11 ao J mais recente da proposta do professor. 


Van Seters concluiu também que o material atribuído ao J mais antigo era muito pequeno, que o E consistia de uma única estória e que todo o material não-P pertencia ao javista mais recente. 


Percebendo igualmente a forte afinidade do J com o Dêutero-Isaías, e também que a forma da promessa da terra no J era um desenvolvimento posterior daquela encontrada no Deuteronômio e na tradição deuteronomista, Van Seters concluiu que o J deveria ser visto como um autor pós-D, e  que a ‘Hipótese Documentária’ deveria ser totalmente revista. Van Seters publicou sua pesquisa em 1975.



Estas conclusões podem ser lidas em VAN SETERS, J., Abraham in History and Tradition, New Haven, Yale University Press, 1975. E também em VAN SETERS, J., The Pentateuch. A Social-Science Commentary, Sheffield, Sheffield Academic Press, 1999, pp. 59-60.



Em 1976 e em 1977 apareceram os livros de Hans Heinrich Schmid e de Rolf Rendtorff sobre o mesmo assunto. A crise do Pentateuco explodiu, então, em plena luz do dia e ninguém mais podia escapar da constatação de que a teoria clássica das fontes do Pentateuco, pelo menos em sua forma mais rígida, era insustentável. 
 

H. H. Schmid, em 1976,
contestou  a tese de G. Von Rad de um 
‘Iluminismo Salomônico’,
do qual não se percebia nenhum sinal,
como o ambiente no qual o javista teria nascido.
Examinando uma série de textos amplamente aceitos como javistas, Schmid procurou mostrar que o J dependia fortemente da tradição profética e estava muito próximo da escola deuteronômica. A conclusão a que se chegou foi de que o Pentateuco era o produto do movimento profético, assim como o era o livro do Deuteronômio, e de que o J deveria ser visto em estreita associação com a escola deuteronômica nos últimos anos da monarquia ou na época do exílio.


Embora não tenha discutido a datação do J em relação ao D, seu discípulo Martin Rose, em 1981, chegou à conclusão de que o Deuteronômio e a Obra Histórica Deuteronomista eram anteriores ao javista.


Rolf Rendtorff, por sua vez, em 1977, retomando a idéia de M. Noth da formação do Pentateuco a partir de temas independentes, chega à conclusão de que tal independência não deve ser limitada ao período pré-literário, mas o alcança. Rendtorff não vê nenhuma conexão original entre Gênesis e Êxodo-Números, mas sim uma posterior costura deuteronomista ligando estas tradições. Donde se conclui que a idéia de fontes, tal como a J, deve ser abandonada, e que o desenvolvimento dos temas é que deve ser enfocado. Ele defende que cada unidade maior teve seu próprio processo de redação antes de ser colocada em contato com outras unidades. Seu aluno Ehard Blum, mais tarde, confirma as intuições de seu mestre estudando as tradições patriarcais de Gn 12-50.



O Questionamento do Consenso Wellhauseniano em Alemão


Os estudos destes pesquisadores resultaram nas seguintes obras: SCHMID, H. H.,  Der sogenannte Jahwist, Zürich, Theologischer Verlag, 1976; ROSE, M., Deuteronomist und Jahwist. Untersuchungen zu den Berührungspunkten beider Literaturwerke, Zürich, Theologischer Verlag, 1981; RENDTORFF, R., Das überlieferungsgeschichtliche Problem des Pentateuch, Berlin, Walter de Gruyter, 1977 (tradução inglesa: The Problem of the Process of Transmission in the Pentateuch, Sheffield, Sheffield Academic Press, 1990); BLUM, E., Die Komposition der Vätergeschichte, Neukirchen-Vluyn, Neukirchener Verlag, 1984; Studien zur Komposition des Pentateuch, Berlin, Walter de Gruyter, 1990. 

Uma exposição do pensamento destes autores pode ser vista, em português,  em DE PURY, A. (org.), O Pentateuco em questão. As origens e a composição dos cinco primeiros livros da Bíblia à luz das pesquisas recentes, 2. ed., Petrópolis, Vozes, 2002, pp. 63-70.



Van Seters estendeu seu estudo sobre o J a todo o Tetrateuco e defendeu, em livros publicados em 1992 e 1994, que o Javista compõe uma obra unificada que vai da criação do mundo até a morte de Moisés. O J faz o trabalho de um historiador - semelhante ao trabalho do historiador grego Heródoto - no qual ele se baseia em fontes orais e escritas, dando-lhe, porém um significado teológico próprio. 


O objetivo da obra do J é o de corrigir o nacionalismo e o ritualismo da Obra Histórica Deuteronomista, da qual ela é uma espécie de introdução. Por isso, o Javista é posterior ao Deuteronômio e à Obra Histórica Deuteronomista (Deuteronômio, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis), sendo contemporâneo do Dêutero-Isaías e tendo afinidades com Jeremias e com Ezequiel. Mas é anterior ao Sacerdotal (P), que, por sua vez, não é uma obra independente, mas uma série de suplementos pós-exílicos ao D+J. O Eloísta (E) não se sustenta como documento independente e desaparece. 


Van Seters conclui: “Deste modo, eu procuro resolver o problema existente entre os argumentos de Noth a favor de um Tetrateuco separado do D/OHDtr e a insistência de Von Rad em um Hexateuco, com Josué como o objetivo das promessas patriarcais. Já que o J era posterior ao D/OHDtr, ele ligou as duas grandes obras e acrescentou sua própria conclusão final ao Hexateuco através do segundo discurso de Josué em Js 24" [5].


Só para entendermos por onde pode caminhar a discussão atual, cito aqui a proposta do arqueólogo Israel Finkelstein e do historiador Neil Asher Silberman, no livro The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts, New York, The Free Press, 2001, sustentando que a arqueologia hoje dá suporte à hipótese de que tanto o Pentateuco quanto a Obra Histórica Deuteronomista foram escritos no século sétimo a.C.


Os autores defendem que boa parte do Pentateuco é uma criação da monarquia da época de Josias, elaborada para defender a ideologia e as necessidades do reino de Judá. E que a Obra Histórica Deuteronomista foi igualmente compilada, em sua maior parte, no tempo do rei Josias, para fornecer suporte ideológico para sua reforma política e religiosa.


E a Crise do Pentateuco Continua...

GERTZ, J. C., SCHMID, K. & WITTE, M. (eds.), Abschied vom Jahwisten: Die Komposition des Hexateuch in der jüngsten Diskussion, Berlin, Walter de Gruyter, 2002, XII + 345 pp.: esta obra mostra como a crise do Pentateuco continua e como um possível consenso parece ainda distante. Contribuem, neste volume escrito em alemão e inglês, Jean Louis Ska, Albert de Pury, Joseph Blenkinsopp, Jan Christian Gertz, Konrad Schmid, Erhard Blum, Hans-Christoph Schmitt, Thomas Dozeman, Uwe Becker, Markus Witte, Graeme Auld, William Johnstone, Ernst Axel Knauf, Thomas Römer, Reinhard Gregor Kratz... Só gente do ramo, proveniente da Europa, Estados Unidos e Israel! E, como observa Robert Gnuse, em resenha do livro na CBQ 65/4, de outubro de 2003, p. 656, os autores concordam em rejeitar a fonte javista e sugerem que a coerência das narrativas do Pentateuco somente foi alcançada no pós-exílio com o D e o P. Para além disso, ninguém concorda com ninguém... 

Cada um constrói
seu próprio paradigma, 
cada um mais sugestivo do que o outro.

E comenta Gnuse que os ensaios tipificam a natureza variada e caótica da pesquisa do Pentateuco, no contexto do abandono da teoria das quatro fontes. Leia também artigo de 2006 de Rolf Rendtorff, onde o pesquisador se pergunta: O que aconteceu com o Javista na atual pesquisa do Pentateuco? E responde: ele desapareceu e levou consigo a Hipótese Documentária do Pentateuco. Cf. mais aqui.




[1]. Estou me inspirando no artigo de RENDSBURG, Gary A., Down with History, Up with Reading: The Current State of Biblical Studies, em At the Cutting Edge of Jewish Studies, http://www.arts.mcgill.ca/programs/jewish/30yrs/rendsburg/index.html , no qual o autor lamenta e critica, em conferência pronunciada no Departamento de Estudos Judaicos da McGill University, Canadá, em maio de 1999, a ruptura do consenso que passo a descrever.
[2]. Cf. THOMPSON, T. L., The Mythic Past. Biblical Archaeology and the Myth of Israel, New York, Basic Books, 1999, p. XI.
[3]. Em Nuzi, habitada principalmente por hurritas, foram encontradas cerca de 3.500 tabuinhas cuneiformes, que cobrem a vida da comunidade e de cidades vizinhas ao longo de seis gerações. Especialmente significantes são as informações administrativas, sociais, econômicas e as descrições das práticas e estruturas jurídicas. É um material que ilustra brilhantemente a vida diária de uma comunidade da metade do segundo milênio a.C. Cf. FREEDMAN, D. N. (ed.), The Anchor Bible Dictionary on CD-ROM, New York, Doubleday & Logos Library System, 1992, 1997, verbete Nuzi.
[4]. O livro de Thomas L. Thompson: The Historicity of the Patriarchal Narratives: The Quest for the Historical Abraham, Berlin, Walter de Gruyter, 1974 e Harrisburg, Trinity Press International, 2002.
[5]. Cf. VAN SETERS, J., The Pentateuch. A Social-Science Commentary, Sheffield, Sheffield Academic Press, 1999, pp. 61-62.

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[8]. Cf. SCHÄFER-LICHTENBERGER, C., Sociological and Biblical Views of the Early State, em FRITZ, V. & DAVIES, P. R. (eds.), The Origins of the Ancient Israelite States, Sheffield, Sheffield Academic Press, 1996, pp. 78-105.
[9]. Cf. FIORAVANTE, E., Do modo de produção asiático ao modo de produção capitalista, em GEBRAN, Ph. (org.), Conceito de modo de produção, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978, pp. 131-155.

[10]. Cf. LEMCHE, N. P., From Patronage Society to Patronage Society, em  FRITZ, V. & DAVIES, P. R. (eds.), The Origins of the Ancient Israelite States, Sheffield, Sheffield Academic Press, 1996, pp. 106-120. Como parece ter  ficado claro, toda a discussão sobre as origens dos Estados israelitas passa também pela discussão anterior sobre as origens de Israel, um pressuposto não discutido aqui, mas que pode ser visto em detalhes no artigo A História de Israel no Debate Atual.
Li

Fonte:
Airton José da Silva
http://www.airtonjo.com/historia20a.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.