segunda-feira, 20 de abril de 2015

TEOLOGIA DE HESÍODO E A IMAGINAÇÃO CRIADORA



Literatura Fundamental: Teogonia de Hesíodo - PGM 77 - 28 min.
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Hesíodo

Cronos é destronado por um filho e ele engolindo-os prevenia-se.

Quando Réia, sua esposa, devia dar à luz Zeus, ela suplicou a seus pais, Terra e Céu, que lhe aconselhassem um refúgio para que ela pudesse salvar esse filho. Eles atenderam ao seu pedido e, encoberta pela noite, Réia escondeu seu filho em uma gruta em Creta, confiando-o à deusa Terra, para que ela o nutrisse e criasse. Seguindo as instruções de seus pais, Réia envolveu uma grande pedra em um pano e entregou-a a Cronos. O deus, implacável, engoliu-a, sem desconfiar de nada.

Zeus cresceu rapidamente, libertou das prisões subterrâneas os seus tios paternos Ciclopes e Centímanos, e aliando-se a eles travou contra seu pai Cronos a luta pelo poder. Vencido, o velho deus Cronos vomitou primeiro a pedra por último engolida. Zeus a cravou em Delfos, para que os homens mortais aí a admirassem.

Após a vitória sobre seus inimigos, Zeus é aclamado por seus aliados rei dos deuses e dos homens. Assim fez a partilha dos bens e fixou os privilégios de cada deus. É a terceira fase do mundo, a atual e a mais perfeita de todas.  Com uma série de casamentos, que eram verdadeiras alianças políticas, Zeus organizou o seu reinado e tornou o seu poder inabalável.

A primeira tradução completa da Teogonia para o português é a de JAA Torrano (1981), recentemente reeditada (Iluminuras, 1991). Mais recentemente ainda, o texto foi traduzido por Pinheiro e Ferreira (2005).

JAA Torrano. 
O sentido de Zeus. 
O Mito do mundo e o modo mítico de ser no mundo.
A.E. Pinheiro & J.R. Ferreira, Hesíodo. 
Teogonia / Trabalhos e Dias, Lisboa, Imprensa Nacional, 2005.

A Teogonia de Hesíodo

Hesíodo

Hesíodo e Homero estão nos umbrais da história grega e foi como aedos que compuseram suas canções transmitidas de geração a geração

Muitos séculos antes de se adaptar a escrita fenícia à língua grega e de se criar assim esse prodigioso instrumento de comunicação, que é o alfabeto, os aedos gregos já compunham e sabiam de cor muitas e longas canções. Aedo em grego antigo significa “cantor”; os aedos eram os poetas que, antes da invenção do alfabeto, praticavam o culto da deusa Memória e das musas e recebiam dessas divindades o dom de compor canções ao som da lira.

Posteriormente, com a popularização do alfabeto, essas canções foram escritas e os aedos desapareceram, e aos poucos deixou-se de cultuar a deusa Memória. Mas é daquela época remota que nos chegaram, entre outras canções, a Ilíada e a Odisseia, cujo autor os gregos acreditavam ter sido Homero, um aedo da rica região da Jônia,Ásia Menor, no século 8 a. C.

Contemporâneo de Homero, um outro aedo chamado Hesíodo, que viveu na Beócia, região norte da Grécia continental, transmitiu-nos também importantes canções. Hesíodo e Homero estão nos umbrais da história grega, pois é a partir da época em que viveram que se divulgou mais intensamente o uso da escrita na Grécia. Mas foi como aedos (e não como escritores) que eles compuseram suas canções: inspirados pelas deusas-musas, guiados pela deusa Memória, e servindo-se de técnicas de composição oral que durante séculos foram transmitidas de geração a geração. 

Uma das canções de Hesíodo conta-nos como o mundo surgiu a partir dos primeiros deuses, dos amores e das lutas entre os deuses. Os mestres-escolas da Grécia clássica chamaram essa canção de Hesíodo Teogonia, que significa em grego “nascimento de deus” ou “dos deuses”.

 Esse nome teve tanto sucesso que até hoje essa canção é chamada assim. Os mestres-escolas gregos utilizavam-na para ensinar a ler e escrever: eles faziam leves marcas de letras em uma tabuinha de cera mole e mandavam a criança reforçar as marcas, tornando as letras bem visíveis, e depois explicavam o sentido dos versos assim escritos. 

A Teogonia constituía, com os poemas de Homero, a cartilha na qual os gregos aprendiam a ler, a pensar, a entender o mundo e a reverenciar o poder dos deuses.

A deusa memória e suas filhas
O aedo Hesíodo preludia o seu canto sobre o nascimento do mundo com um hino às musas, em que conta como a sua vocação de poeta foi despertada por uma aparição dessas deusas. Ele pastoreava ovelhas no sopé do monte Hélicon, quando as deusas se apresentam a ele com as palavras: 

“Sabemos dizer muitas mentiras semelhantes aos fatos, 
mas sabemos, se queremos, fazer ouvir a verdade” 
(Teogonia, vv. 27-8).
As musas então fizeram dele um vidente capaz de conhecer as coisas presentes, passadas e futuras e ensinaram-no a cantar, para que ele cantando celebrasse os deuses imortais, as façanhas dos homens antigos e também a elas próprias no começo e no fim das canções. Deram-lhe um ramo de loureiro, cortado de modo a servir de cetro (“cetro” é um bastão que entre os gregos antigos era sinal de legitimidade, eficácia ou veracidade da palavra dos que o empunhavam: os reis, os arautos e os aedos).

Depois de relatar essa visão que o assinala como um servo eleito das musas, Hesíodo descreve essas deusas a cantar no palácio de Zeus a mesma história que é o tema de sua canção: o nascimento dos deuses, do mundo e da ordem imposta por Zeus ao universo.

As musas, portanto, são as cantoras divinas, cujo poder onisciente de cantar os acontecimentos presentes, passados e futuros é por elas outorgado aos cantores humanos, seus servidores. Os diversos aspectos e funções do canto do aedo são indicados pelos nomes das musas: Glória, Alegria, Festa, Dançarina, Alegra-coro, Amorosa, Hinária, Celeste e Bela-voz.

Por serem filhas do deus supremo, elas estão ligadas ao exercício do poder, protegem os reis justos quando estes devem falar e impor ao povo suas decisões e sentenças, e dão aos cantores palavras verdadeiras. Por serem filhas de Memória, elas detêm o conhecimento do que foi, do que é e do que será. E, por serem moças, têm a beleza, a sensualidade e o poder de sedução próprio do gênero feminino.

Os deuses e o mundo
Na Teogonia de Hesíodo, o mundo surge com o nascimento dos numerosos deuses que o constituem. Esse conjunto de inumeráveis deuses, com os seus privilégios às vezes por demais exclusivos, é governado pelo poder e sabedoria suprema de Zeus. O que o poema conta, fundamentalmente, são os antecedentes, a preparação e constituição dessa ordem imposta por Zeus à disparidade e antagonismo das forças divinas que compõem o mundo.

Na origem do universo, estão três deuses primordiais: Caos, Terra e Eros. A deusa Terra é o assento sempre firme de todas as coisas, o fundamento inabalável. Primeiro ela gera sozinha (por cissiparidade) um outro ser, igual a ela, o deus Céu, para que também ele seja o assento sempre firme de todos os deuses e para que a cubra toda ao redor. E depois, sozinha, gera as altas Montanhas e o Mar impetuoso.

Há três grandes linhagens divinas: a descendência do Caos, a do Mar e a do Céu. Do Caos provêm todos os males que atormentam a vida humana; os mais importantes deles são os terríveis filhos da deusa Noite. Na família do deus Mar há monstros de estranhas formas compósitas, que habitam as águas marinhas e as regiões subterrâneas. Na família do Céu há a sucessão dos reis divinos Cronos e Zeus.

História do céu e de cronos
A primeira fase do mundo é o reinado do Céu.
O Céu fecundo e ávido de amor, com suas contínuas e incessantes uniões com a Terra, impede que sua prole venha à luz. Atulhada com tantos filhos dentro de si, a Terra prodigiosa gemia enquanto o Céu se alegrava em sua perversidade.

A Terra tramou um ardil: criou o gênero do grisalho aço, forjou um grande podão e perguntou a seus filhos qual deles queria fazer o Céu pagar pelo ultraje. Só o mais novo deles, o deus Cronos, aceitou o desafio proposto pela mãe. Com alegria, ela o colocou oculto em uma tocaia. Quando o grande Céu se aproximou desejando amor, o filho agarrou as partes genitais com a mão esquerda, com a direita cortou-as com a enorme foice e lançou-as a esmo para trás.

Dos salpicos de sangue caídos sobre a Terra nasceram as divindades da vingança: as cruéis Erínias, os gigantes guerreiros e as ninfas chamadas Freixos (arbustos de cuja haste duríssima se faziam as lanças).
O membro decepado caiu no mar e aí flutuou por muito tempo. Da espuma que ele ejaculou, formou-se uma virgem. Quando ela saiu das ondas, na ilha de Chipre, a relva florescia sob seus pés: era Afrodite, a deusa do Amor e do Desejo.

O nascimento de Zeus
A segunda fase do mundo é o reinado de Cronos.
Ele desposa a sua irmã Réia e dela teve três filhas (Héstia, Deméter e Hera) e três filhos (Hades, Posídon e Zeus). Mas tão logo cada um deles nascia, Cronos os engolia, para evitar que houvesse outro rei em seu lugar. Uma profecia da Terra e do Céu o avisara de que era seu destino ser destronado por um filho e ele engolindo-os prevenia-se.

Quando Réia devia dar à luz Zeus, ela suplicou a seus pais, Terra e Céu, que lhe aconselhassem um ardil para que ela pudesse salvar esse filho. Eles atenderam a sua súplica e, encoberta pela noite, Réia escondeu  seu filho em uma gruta em Creta, confiando-o à deusa Terra, para que ela o nutrisse e criasse. Seguindo as instruções de seus pais, Réia envolveu uma grande pedra em um cueiro e entregou-a ao soberano Cronos. Tomando-a nas mãos, o deus implacável meteu-a ventre abaixo, sem desconfiar de nada.

Zeus cresceu rapidamente, libertou das prisões subterrâneas os seus tios paternos Ciclopes e Centímanos, e aliando-se a eles travou contra seu pai Cronos a luta pelo poder. Vencido, o velho deus Cronos vomitou primeiro a pedra por último engolida. Zeus a cravou em Delfos, para que os homens mortais aí a admirassem.

O reinado de Zeus
Após a vitória sobre seus inimigos, Zeus é aclamado por seus aliados rei dos deuses e dos homens. Assim fez a partilha dos bens e fixou os privilégios de cada deus. É a terceira fase do mundo, a atual e a mais perfeita de todas.  Com uma série de casamentos, que eram verdadeiras alianças políticas, Zeus organizou o seu reinado e tornou o seu poder inabalável.

Os filhos que Zeus teve com suas diver-sas esposas representam a Harmonia, a Or-dem, a Justiça, o Esplendor e a Glória do reinado cósmico de Zeus. Entre eles, estão as nove musas, que dão aos aedos o divino poder das canções.

Jaa Torrano
é professor Titular de Língua e Literatura Grega na Universidade de São Paulo (USP). É autor de " O sentido de Zeus." "O Mito do mundo e o modo mítico de ser no mundo." (São Paulo, Iluminuras, 1996)


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http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-teogonia-de-hesiodo/
http://www.infoescola.com/mitologia-grega/teogonia-de-hesiodo/
Publicado em 17 de abr de 2015-Licença padrão do YouTube
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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